A minha Terra é, ou era predominantemente agrícola e o minifúndio a regra, quase todos tinham o seu pedaço de terra, mas claro que havia excepções, eu por exemplo o único terreno que tinha era proveniente dos caminhos e estradas que naquele tempo eram de terra batida, assim o meu vizinho Adelino que estava na Marinha sabendo a minha alergia ao trabalho do campo, e sem nada de meu, desafiou-me a concorrer, assim fiz fui aprovado nas provas de acesso, e eis-me nos Fuzileiros corria o Mês de Março de1965 e tinha acabado de fazer 18 anos.
Decorreram sem grandes sobressaltos os quatro Meses exigentes de recruta, passados entre o Alfeite e a Escola de Fuzileiros em Vale de Zebro, próximo do Barreiro, até que ao fim desse tempo e uma semana antes do dia de Juramento de Bandeira fomos para o Grupo Nº1 de Escolas da Armada em Vila Franca de Xira, como estava próximo da Terra e não havia nada para fazer nos próximos dias pedi ao 2º Comandante da Companhia para me livrar dali uns dois dias para ir dar uma ajuda ao meu Tio, (recusou e bem) e cá o rapaz não foi de modas logo que ele voltou costas, e como estávamos acampados em tendas no campo de futebol da Unidade, dei uma vista de olhos pela vedação e no ponto escolhido aí vai ele que se faz tarde, quando regressei estava o Homem à minha espera com cinco dias de detenção, os primeiros de 175, se as contas não me falham.
Assim, logo que Jurámos Bandeira fui para o Navio Escola Sagres, não a actual mas uma outra que está neste momento na Alemanha como Museu, aí permaneci por três semanas findos os quais voltei novamente para a Escola de Fuzileiros, mas não consegui digerir os cinco dias de detenção, e talvez pela minha dificuldade em estar fechado, passei a andar praticamente sempre de salto umas vezes era apanhado outras não, até que o meu Amigo Graciano que estava preso em Alenquer, e de quem eu era escrivão e leitor de cartas pois ele não sabia ler nem escrever, aos Domingos quando ia a Vila Verde ia almoçar lá na cadeia com ele e outros presos com algumas posses que se juntavam em saborosos e bem regados almoços, e num desses almoços fiquei a saber que um dos colegas engaiolados era de Palhais mesmo junto á Escola de Fuzileiros, o Homem pede-me para levar qualquer coisa para entregar á Mulher, quando lá cheguei observei que a casa estava cheia de Mulheres bonitas, foi tiro e queda, a partir daquele momento a minha Unidade passou a ser ali ao lado em Palhais.
Na rua que então passei a frequentar morava um Segundo Tenente da mesma Unidade, e as casas até eram próximas uma da outra, o Homem sempre que me via por lá chamava a ronda para me ir buscar, e os castigos sucediam-se, ainda fiz o curso do I.T.E. com aproveitamento, mas as coisas andavam de mal a pior, atá que ao saltar um obstáculo lixei um joelho, hospital da Marinha e aí permaneci por longos 78 dias mais de dois meses á espera de ser operado, e mais doze pós operatório onde também apanhei alguns castigos, por andar a mudar as camas aos outros doente, elas tinham rodas e era uma maneira de passar o tempo mudar o local das camas quando apanhava os outros em sono profundo, depois de lá sair voltei para o Vale de Zebro, e ainda e sempre a andar a saltar o muro ou a vedação, até que o meu «amigo» Tenente Oliveira me manda novamente a ronda para me dar boleia até á Escola de Fuzileiros, eu ai não gostei do «abuso», e como ele estava de Oficial de Dia tive um pequeno desentendimento com ele, chamando-o á razão que não se fazia aquilo impedir um pobre Grumete de namorar, e obriga-lo a vestir a farda de saída que era uma complicação, nada que se comparasse com as suas similares do Exército ou Força Aérea, ele não teve pelos ajuste e dá-me ordem de prisão.
Como era Domingo e na Unidade não havia prisão, mandou retirar Sentinelas dum Posto e lá foram guardar-me para uma antiga casa do carvão sem portas nem janelas que ficava junto ao Cais, ali passei a noite, sentado pois não havia cama, com os meus guardas mais nervosos que eu, devem-lhes ter dito que estava ali um perigoso delinquente, e Rapazes ainda «maçaricos» estavam todos borrados de medo, no dia seguinte pela hora do almoço estava eu e dois sentinelas a almoçar sentados numas pedras na parte de fora da casa que servia de prisão, quando os dois últimos Rapazes dum Pelotão que atravessava a zona do Cais começam a ficar aflitos, os gajos que me estavam a guardar não queriam socorrer os Rapazes por que diziam eles, estavam a brincar, para eles se atirarem á agua e eu fugir, eu contra a vontade deles corri ao outro lado do Cais e fiz deslizar um Zebro (bote de borracha) que estava na rampa consegui coloca-lo na água, mas já só consegui tirar um, o outro tinha-se afogado, foi retirado do lodo cerca de uma hora depois pelos Mergulhadores vindos do Alfeite.
A solução encontrada para sair do buraco em que me tinha metido foi: partir á «conquista de Espanha» e de seguida França, com mais dois Amigos civis, o Hugo ( que descanse em paz) e o Carlos, este de boa saúde felizmente, o Hugo na hora H, fez marcha atrás, (o único com juízo) eu e o Carlos no Sábado de Aleluia de 1966 partimos a pé de Palhais com destino á Fronteira na zona de Elvas, foram cinco dias sempre a pé caminhando de noite e escondendo-nos de dia, á aproximação de qualquer carro ou Pessoa, até ao Caia, onde havia as maiores cheias dos últimos anos, (aliás, o caminho foi feito praticamente sempre a chover) assim para fugir á corrente do Rio que era muita, fomos cair na boca do lobo, isto é, da P.I.D.E. levados para o Posto na Fronteira somos encaminhados mais tarde para a Sede deles em Elvas, aqui fomos separados, (separação que durou mais de trinta anos) no dia seguinte sou confrontado com a descoberta que sou Militar, (eu não o tinha dito pensando que os gajos não descobriam, visto ainda só ter 19 anos) ainda me forneceram uns «abrunhos» e passadas umas horas vêm os Militares do Quartel de Caçadores Nº8 sediado aqui em Elvas buscar-me para prisão Militar dessa Unidade.
Estive ali em Caçadores, cinco dias á espera que a Escolta da Marinha me fosse buscar, o que aconteceu passados esses dias, fomos de comboio até Lisboa e daqui na Vedeta da Armada até ao Alfeite onde fiquei detido mais cerca de vinte dias, findos os quais me mandaram passear porque estavam fartos de me aturar.
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