Os que viveram o marcelismo encaram o que se passa hoje com
uma curiosa sensação de déjà-vu. Na verdade, quase tudo parece um remake dos
primeiros anos da década de 70, quando se percebeu que o regime abria fendas
irreversíveis – porque incontroláveis.
Tal como Marcello Caetano, Passos Coelho já não coordena,
com efeito, o governo a que preside, não domina os militantes do partido, não
se credibiliza junto da opinião pública. Pelo contrário: todos o maldizem e o
achincalham.
Se o problema magno do antigo regime estava na guerra
colonial, o de agora reside no desemprego; se os opositores de maior mossa
(nele) eram generais saídos da situação – Costa Gomes e Spínola –, os de agora
são notáveis em dissidência – Manuela Ferreira Leite e Marcelo Rebelo de Sousa
–; se os mais crispados de então se situavam entre os exilados (à guerra) e os
emigrados (a salto), os de agora encontram-se nos jovens e nos quadros em
debanda da pátria; se Marcello Caetano cedeu à implacabilidade dos ultras,
Passos Coelho ajoelhou perante a implacabilidade da troika. Marcello Caetano
quis demitir-se por duas vezes e por duas vezes foi seguro por Américo Thomaz;
Passos Coelho quis demitir-se por duas vezes e por duas vezes foi seguro por
Cavaco Silva.
Expressivo seria o comentário do último líder do Estado Novo
sobre o que se passava à sua volta: “O que é que eu podia fazer quando as
mulheres de alguns dos ministros se punham nos cabeleireiros e nas recepções a
dizer mal do Governo de que os maridos faziam parte?”
Não nos surpreendamos se Passos Coelho, como o seu
antecessor, acordar uma noite destas com um (outro) Paulo de Carvalho a cantar
um (outro) “Depois do Adeus”.
Adeus!
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