terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

HISTÓRIAS VIVIDAS


Caminhada extensa, mais de dez quilómetros, roupa com fartura para fazer frente ao fresquinho da madrugada, ao fim de cinco quilómetros comecei a fazer strip-tease, já deitava fumo pelas orelhas, embora não pareça pela linha recta da Avenida, é sempre a subir, e como diz o ditado, nas descidas todos os Santos ajudam, nas subidas cada um por si, mas vamos ao percurso percorrido, e ás historias recordadas.
Cais do Sodré 6h40, Rua do Arsenal, Câmara de Lisboa, Rua do Ouro, Rossio, subo até ao Hospital de S. José, Martim Moniz, Rua da Palma, (recordei aqui a ultima vez que estive com o meu parente César, que desapareceu antes de tempo) e Av. Almirante Reis.


Aqui observei o local da antiga garagem dos autocarros Claras, que fazia o percurso de ida e volta á minha Terra e que tantas vezes aqui desembarquei, (e outras tantas embarquei), agora resta um novo edifício de recolha de viaturas e habitação, mas ainda não era até aqui que vinha destinado, antes á Fonte Luminosa na Alameda Afonso Henriques, antes ainda observei o estado de degradação de parte da Cervejaria Portugália e do antigo Dispensário onde grande parte dos Portugueses iam tirar a "micro", (radiografia pulmonar em ponto pequeno) para ver se padeciam de alguma doença pulmonar, agora espera-se que caia para poupar trabalho na sua demolição, e entretanto como está longe de erradicada a tuberculose, é muito provável que esteja a servir-me o pastel de nata algum funcionário com essa doença sem suspeitar de tal, há razões que a razão desconhece, esta é de bradar. 


Mais um avanço na subida e chego finalmente á Alameda, mas confesso, cheguei estoirado, ou acelerei mais do que devia, ou o mais certo isto já não ser o que era, olhei para a Fonte, e já não tive coragem para ir junto dela, até porque a vi tão encardida, que se me aproximasse mais, ia com certeza criticar e hoje não estou para aí virado, hoje são só salamaqueques, e também porque lá no alto por detrás da Fonte fica a Rua Barão de Sabrosa, e um dia há muitas décadas, por causa dumas saias fui ameaçado que um G.N.R. me faria a folha, e o gajo ainda pode andar por lá, não é covardia, antes, cuidados e caldos de galinha nunca fizeram mal, assim limitei-me a tirar umas fotos, virei-me para o outro lado da Alameda, e lá bem no fim da Alameda também tenho história, e já agora que tempo não me falta, aí vai!


Inicio dos anos setenta do século passado, moro em Paço de Arcos, no meu circulo de Amigos, há vários que andavam no Instituto Superior Técnico, (todos terminaram as Licenciaturas, não eram baldas) (não os identifico por motivos óbvios, pois todos trabalham ainda, e a coisa já cheira retaliação por todos os poros), restava cá o rapaz e o Carlos Enes que não frequentávamos a Escola, então o que há de história no Técnico se nunca lá andei ? Pois é, a Liberdade até nos faz esquecer que existiu uma coisa que era o seu contrário, a privação desta, e ai de quem protestasse, e os Estudantes eram danados para protestar, (não são como muitos dos actuais, que agora até arranjaram uma moda que é, embebedarem-se e filmarem a coisa para mostrar aos amigos, naquele tempo lutava-se, pela Liberdade, e as Faculdades foram alfobres dessa luta, e quase todos os meu Amigos (com excepção de um que já não está entre nós) quando havia batatada convidavam-me para ir até lá ver como paravam as modas.


Os mais antigos, e que moravam aqui na Região de Lisboa, lembram-se com certeza de algumas lutas nas Faculdades, a mais próxima de Abril terá sido a da Faculdade de Letras, em que os Estudantes queriam correr com os «gorilas» que Veiga Simão tinha introduzido nas Escolas sob a capa de simples auxiliares, bem, mas para além dos gorilas presentes nas Faculdades que serviam antes de tudo como bufos para transmitirem ao tristemente celebre capitão Maltês, comandante da Policia de choque, (ao tempo sediada em Oeiras), que atacava ao primeiro sinal de rebeldia ou contestação numa qualquer Faculdade de Lisboa, e era nessas ocasiões que eu e o meu Amigo Enes  (informados pelos Amigos Estudantes) lá íamos dar uma ajuda na distribuição de batatada, por norma quem levava eramos nós, mas assim os Estudantes ficavam mais aliviados, pois a quantidade de bordoada distribuída por mais gente, calhava algumas menos a cada um deles.

Nas primeiras eleições livres, foi na minha casa em Oeiras que nos juntámos todos e passámos a noite inteira á espera dos resultados Eleitorais, foi bonito sentir que tinha valido a pena as muitas lutas em que muitos Portugueses se envolveram (não a minha, que não foi nada) hoje pergunto-me se terá valido a pena, os idosos tratados como lixo que se deita fora, os Jovens se quiserem trabalhar têm de sair do País, a educação já era, a saúde pelas horas da morte, andei eu a levar bordoada para vir desembocar nesta mer... que estamos a viver? Não merecíamos este triste fim!












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