quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

"ATÉ SEMPRE AMIGO"




Acompanhar Amigos á última morada é sempre penoso, e ultimamente não tenho tido descanso nessa tarefa, e em dose dupla, umas vezes em Vila Verde, outras aqui, não tenho parado, e com a desvantagem evidente de nenhum dos que acompanhei me poder pagar da mesma moeda, mas enfim quando nos reencontrar-mos conversaremos sobre essa situação.
Hoje fui então acompanhar o meu Amigo Manuel, ao Crematório de Barcarena, pegou moda esturricar o pessoal, o que não me agrada nada, mas cada um come do que gosta, ou é obrigado, no caso parece ter sido de vontade do próprio.
Esta morte obriga-me a reflectir em voz alta naquilo em que se tornou a Família, nos tempos que correm, seja por separação física (muitos continuam a ter que procurar o sustento em paragens longínquas), seja porque se perdeu aquele sentido de afecto que existia até muito depois do desaparecimento físico dos parentes, especialmente os mais próximos, como Pais, Avós ou Filhos, que eram mimados enquanto vivos e chorados após a morte, hoje tudo isto é apenas uma lembrança.



Este Amigo era casado em segundas núpcias com uma Senhora que também já tinha sido casada, ele com uma Filha do casamento anterior, ela com dois Filhos também do anterior, ele Engenheiro de máquinas, ela com formação superior mas não exercia, estava em casa, como profissional ele dava apoio especialmente á Industria de tomate, tinha escritórios em Benavente  e Alto da Barra, Oeiras, dava formação na sua área em especial em Itália onde se deslocava e permanecia várias vezes ao ano, ganhava portanto bastante bem, pelo que acumulou fortuna.
A Filha do falecido não frequentava a casa do Pai, nem o Pai a da Filha que vive no mesmo Concelho, os Filhos da Mãe não frequentavam a casa desta, ou muito esporadicamente, o que está mais próximo na Suíça, ainda vinha cá de quando em vez, o outro nos Estados Unidos raramente, viviam estes dois seres apenas rodeados de alguns Funcionários, alguns deles para lhe irem sacando o que podiam.



Até que o Manuel teve um problema num ombro, foi operado, a operação terá corrido mal, passa o tempo nos Hospitais e Clínicas, a esposa segue-lhe o exemplo, ficam os dois internados em Clínicas privadas, o dinheiro a evaporar-se entre as mãos dos gananciosos, a casa no Algarve espera por comprador, as lojas que têm no Centro Comercial do Alto da Barra alugadas, alguns dos alugatários esqueceram-se de pagar as rendas ao aperceberem-se que os dois estão internados, o Iate que estava ancorado na Marina de Oeiras evapora-se para parte incerta, o carro da Srª segue o mesmo destino, os dele parece que ainda estão na garagem, vamos ver se não fogem, a funcionária arranjada á pressa para ir tratando das burocracias após o internamento, vê-se com cartões de credito nas mãos, e foi um fartar vilanagem, até ser apanhada com a boca na botija, uma desgraça total.


A Srª que apesar de ser bastante mais nova que o falecido, (mais nova que eu, que ainda estou aqui para as curvas) já não se movimenta por si, hoje veio num transporte de doentes dos Bombeiros de Carnaxide até ao Cemitério, não chega a sair do transporte, estamos dentro da sala onde o Padre faz as despedidas do Manuel, vem uma funcionária da funerária chamar-me que a Srª quer falar comigo, desloco-me até á ambulância onde ela está, diz-me que o Marido gostava muito de mim, e ela também, fiquei comovido, pareceu-me uma despedida, penso que o Filho terá percebido que se não a tirarem rapidamente daquela Clínica, também não durará muito, parece que vai voltar dentro de poucos dias, que venha e não abandone a Mãe, é o que  espero, adeus Senhor Engenheiro, até sempre!
Deixo aqui uma imagens de Barcarena, por onde andei fazendo horas até á chegada do carro funerário que transportou o corpo desde Carnaxide.








4 comentários:

  1. Não fiques descontente,
    Por quem acompanhares a última morada
    Não lhe cobres o frete
    Para eles a vida já não vale nada,

    Cremado não quero ser,
    A terra me criou
    A terra me há-de comer

    Que a alma e as cinzas descansem em paz.

    Uma boa noite para ti amigo Virvílio, um abraço
    Eduardo.

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  2. Que história... Quando se está a ir desta para a melhor aparecem sempre aves de rapina... Gostei!

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  3. Deixo um abraço de pesar pelo seu amigo. Também perdi ontem no hospital de Setúbal, (ainda não sei quando é o funeral) a penultima dos doze irmãos que minha mãe teve. Curiosamente esta, uma das mais novas, foi minha mãe quando casou que acabou de criar. Tinha connosco uma grande afinidade, e faleceu no mesmo dia da minha mãe, com 3 anos de intervalo.
    Um abraço e saúde.

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