domingo, 19 de janeiro de 2014

CÁ VAI MAIS UMA! "E ESTA, HEIN"


Tenho escrito tanta coisa nos blogs que algumas, muito provavelmente já estarão em dose dupla, esta que hoje me surgiu ao andar por Paço de Arcos, tenho ideia de já ter contado, mas como não tenho a certeza, aqui vai; Fui morar para esta Terra no dia 8-1-1969, como nesse tempo já longínquo ainda não era «bicho do mato» arranjei por lá muitos Amigos, muitos deles perduram, e perdurarão, assim não foi de admirar que tendo eu ido trabalhar para Alcoitão levando comigo toda a prol, (um dos Filhos acabou por nascer quando estávamos por lá) e tenha mantido aqui, a casa que habitava antes dessa mudança, e onde vinha aos Domingos único dia de descanso que tinha, nessas idas passava sempre pelo Pavilhão Jardim (de que hoje falei no Facebook) para conversar com o meu Amigo Silva que explorava essa casa com o seu Primo, Manuel Marmelada.


Numa dessas visitas diz-me o Silva, olhe a Dª «Nonou» (gente rica é mesmo assim, não há cá Marias para ninguém) queria falar consigo, eu sei porquê mas deve ser ela a dizer-lhe, pois que seja, logo á noite dou aqui um salto e vou lá a casa ver o que pretende: (Cabe aqui recordar que nessa altura estava eu de candeias ás avessas com os Suecos meus patrões, por terem alugado a casa (e os funcionários) nesse Verão a uma Americana doida, que me «obrigou» a esconder a minha Menina durante esse período com o pretexto de que quando alugou a casa não lhe disseram que havia lá Crianças, que só lhe tinham falado num Bebé, o meu Filho Pedro que tinha na altura dois Meses de idade ) nesse mesmo dia á noite voltei a Paço de Arcos, dirigi-me a casa da Srª que queria falar comigo, conhecia-mo-nos bem, pois eu tinha sido Amigo do genro, o Fernando Monteiro, comandante da T.A.P., que tinha falecido pouco tempo antes num acidente de automóvel no Alto da Boa Viagem em Caxias, mas não conhecia o marido da Srª, ela apresentou-nos,  foi direito ao assunto, falou e disse:



O meu marido está doente do coração, e os médicos não querem que ele conduza, e como o Sr. é como se fosse da Família, queria convida-lo para ser seu chofer (o Sr. Monteiro era administrador das firmas do Comendador Joaquim Matias, entre as quais a fábrica de cimentos Cibra em Pataias) antes que eu respondesse deu a palavra ao marido, que me expôs as condições, ia ser seu chofer, mas ficava vinculado á Empresa, da qual recebia o vencimento que propôs, e da parte dele receberia 200 Escudos por Mês para eu transportar os Netos á Escola, aceitei a oferta, pois de qualquer maneira ia sair da casa dos Suecos, combinámos o dia em que me apresentaria ao serviço, e comecei nova vida no dia indicado, que se resumia a tirar o "Boca de Sapo" da garagem no Bairro da Couraça, levar os Meninos á Escola, e de seguida seguir para Lisboa com o Sr. Monteiro, durante o dia andava a roçar o cu pelas paredes no grande edifício, na R. Sampaio e Pina em frente ao Rádio Clube Português, e á noite regressava a Paço de Arcos, colocava o carro na garagem, e regresso ao Bairro da Figueirinha onde habitava.


Algumas vezes lá conseguia sair do edifício (que me sufocava) para ir transportar a Esposa e Amigas ás compras ao Chiado, mas também não era muito melhor, a diferença era entre estar trancado num prédio, ou dentro do carro á espera das Senhoras, mas o efeito era o mesmo, mas em frente! Uma Sexta Feira qualquer, diz-me se não me importo de no dia seguinte (aos sábados não trabalhava)  ir buscar a Nora e os Netos que moravam em Benfica (não os Netos que eu levava á escola, esses moravam na mesma rua do Avô) o Filho Médico estava nessa altura na guerra na Guiné e a Nora não conduzia, e depois passava aqui por casa, disse, e íamos todos ao Estoril a uma consulta, (já não recordo quem era o paciente) sim senhor assim fiz, terminada a consulta fiz o percurso inverso, arrumei o carro na garagem e fui á vida, que a  morte estava certa.



No dia seguinte Domingo, junto ao antigo Cinema encontro o Casal Monteiro de braço dado como mandam as boas regras, dirijo-me a eles cumprimentado-os, o homem diz-me: estou muito triste com o Sr. mas o que é que se passa? Interrogo-o, amanhã falamos! Mas que merda esta, estes gajos têm a mania de engolir as palavras e fico aqui estas horas todas a pensar no que terei feito de mal, não dormi a pensar se descobria o que se tinha passado, mas não cheguei lá. No dia seguinte de manhã repito o que fazia todos os dias, o homem entra no carro, aparentemente bem disposto, e nada, e eu em brasa, fala em tudo menos na razão porque «eu o tinha entristecido» dou-lhe alguns minutos para ver se desembuchava mas nada, quando vou ali no Estádio Nacional onde começava a Auto Estrada, digo-lhe, então Sr. Monteiro estou á espera que me diga o que se passou para me vir com aquela conversa ontem!


O Homem não estava nada á espera de ser interpelado, faz um ar de admiração, e responde, há, ainda bem que fala nisso, sabe é que o Sr. no sábado foi buscar a minha Nora, e foi armado em galã, porra, estava á espera de qualquer coisa, mas esta é que não, devo ter ficado algum tempo a recuperar, e já com os miolos a funcionar questiono, armado em galã? Sim, sabe que o meu Filho não está cá, ela é uma Srª nova, e depois as pessoas falam, só lhe respondi, sabe não o deixo já aqui porque como padece do coração pode dar-lhe algum «fanico», e eu tornar-me responsável, mas quando chegar-mos ao escritório vou pedir contas, de regresso já não o trago para casa, o homem não estava á espera desta reacção, pediu-me por tudo para não ir embora, deu ordens na Secção de Pessoal para não fazerem contas comigo, mas estava decidido, e as contas foram feitas, depois da intervenção de dois Amigos que trabalhavam  no escritório um deles tesoureiro o Sr. Cochicho, e também do Sr. Trindade, esperei e trouxe-o de volta, parei o carro á sua porta, ele abre a carteira para me dar dinheiro, peguei nele, não o contei, coloquei-o em cima do banco donde eu tinha saído, e disse-lhe para o ir colocar na caixa das esmolas da Igreja, que ele frequentava todos os Domingos.



Soube mais tarde, que foram os Pais da Nora que estavam no Estoril na tal consulta que falei atrás que chamaram a  atenção por eu não ir fardado, caso fosse com a farda de chofer não teria dado nas vistas, assim, á civil, vinte e tal anos e talvez não fosse nada de deitar fora, (de aspecto, está claro), e ainda talvez outras razões que não interessam, (mais tarde ouve separação do casal), com o marido fora, realmente até podia haver razões para algum mal estar da parte dos pais, só que o meu respeito por ela não estava naquilo que eu levava vestido, e se o homem me diz, olhe Sr. Miranda, quando for buscar a minha nora vá fardado, eu compreendia, e aceitava pacificamente, apesar de quando me contratou, ter dito que "eu era como se fosse da Família", e não me passar pela cabeça enfiar uma farda, se fugi da tropa para não a usar, mas enfim, a vida tem destas coisas e a sobrevivência obriga-nos  a engolir muitos sapos!





3 comentários:

  1. As minhas saudaões Sr Miranda!
    Está tudo bem consigo caro amigo?
    Conhecendo-o como conheço até parece que estou a ver acena toda!
    Um Forte abraço
    António Varela

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  2. Amigo António, só agora vi o seu comentário que agradeço, comigo está tudo bem, espero que o mesmo se passe consigo e com os seus Familiares.
    Um grande abraço

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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