terça-feira, 20 de agosto de 2013

VILA VERDE DOS FRANCOS (ANTIGO)

Tenho andado a adiar a mensagem que se segue, por esta ser bastante extensa, e ter de escrever letra por letra o que é uma grande pastilha, apesar dos meus textos não serem propriamente pequenos, mas este só tem significado se for a totalidade daquilo que consegui descobrir sobre Vila Verde antiga, e duvido até que alguém a vá ler, mas agora que se aproximam as Eleições Autárquicas faz todo o sentido para os meus Conterrâneos, sejam Candidatos ou Eleitores, é certo que águas passadas não movem moinhos mas é sempre bom saber o que fomos, o que somos, e ainda o que queremos ser, há ainda outra razão, prometi que divulgaria um texto onde estivessem algumas datas que fizeram história na Freguesia, e as promessas são para serem cumpridas, então aqui vai.

"Na Província da Estremadura, Patriarcado de Lisboa, Comarca de Torres Vedras, donde dista duas léguas, entre Alenquer e Óbidos, está situada V.V. dos Francos.
O Donatário, Marquês de Angeja, D. Pedro José de Noronha, camarista de Sua Alteza, tem a sua Real Fazenda, é murada com cerca, tem noras, água todo o ano em grande abundância, muitas árvores, laranjeiras, pereiras, ameixeiras e figueiras, muitas árvores silvestres com pombal com pombos bravos e que são sustento dos seus administradores, e sempre conserva mais de mil. Foi fundada esta Vila, no tempo de El-Rei D. Afonso Henriques, por um Fidalgo Franco, os pesos e medidas desta Vila é tudo em bronze tem as armas de El-Rei D. Sebastião glória memória.
 
Tem 168 moradores, e o número máximo de pessoas dá quinhentas e noventa e quatro.
Está situada nas faldas da Serra de Montejunto onde há um convento de religiosas de São Domingos, donde dista uma légua, para poente entre montes há um castelo que está quase demolido e donde se avista Santarém, V. Nova da Rainha, Azambuja, Berlengas, São Martinho, Óbidos e Nazaré.
Tem a poente os lugares de Avenal com uma Ermida com seu alpendre, Orago N. Srª da Ajuda, frequentada em romagens principalmente em Setembro, com seu Capelão aos Domingos e dias Santos. Os moradores dão um moio de trigo, têm vinte e dois fogos, e dista meia légua da Matriz. Tem a sua festa com missa cantada e sermão no primeiro Domingo de Setembro. Tem algumas azenhas que costuma moer com a água que vem das faldas da Serra, tem fazenda do Donatário a que chamam Casal de Montemuro.

Tem o lugar da Rechaldeira com sua Ermida de N. Srª do Amparo, tem nove moradores com boas campinas e pomares.
Tem mais o lugar da Rabissaca com seis moradores, e distam estes dois lugares da Matriz um quarto de légua.
Tem mais o lugar de Lapaduços, com sua Ermida com seu alpendre Orago S. Miguel, com catorze moradores e fazem um moio de trigo. Tem o seu Capelão aos Domingos e dias Santos, situado a poente da chamada Serra Galega, dista da Matriz quase meia légua.
Fazem festa do Anjo a 29 de Setembro, com sermão e missa cantada.
Tem mais o lugar de Casais Galegos com doze moradores, sua Ermida com alpendre, Orago N. Srª da Salvação, missa aos Domingos e dias Santos. É frequentada em muitas romagens em todo o ano, tem o seu Capelão aos Domingos e dias Santos, dão um moio de trigo, dista da Matriz um grande meia légua.

Tem mais o lugar da Portela com sua Ermida, seu alpendre Orago Sta. Bárbara, fabricada pelos seus moradores, tem nove moradores, tem seu Capelão e dista da Paróquia pequena meia légua, todas estas Ermidas são representadas pelo prior da Matriz V. Verde, e confirmados pelo Vigário-Geral do Patriarcado.
Tem mais os seguintes Casais: Casal dos Flogos com um morador, Casal da Furuana com dois moradores, Casal do Tomás com dois moradores, Casal da Serra com um morador Casal da Boavista, Casal do Pinheiro, Casal Alziro, Casal Novo, Casal da Casa Lima, Casal do Romão, cada qual com um morador, em todos tem muita água e terras excelentes para pomares.

Tem ainda: Casal do Fetal, Casal da Carriça, Casal Barraul, Quinta do Pedrefe, Fonte Pipa, Casal do Malpique, Casal da Lavandeira, Casal do Mende, cada um com seu morador.
A Paroquial está dentro da Vila, Orago N. Srª dos Anjos, toda em abóbada e uma só nave, é Sagrada e nela se faz a Semana Santa, contra Sepulcro, até ao dia de Páscoa, o Adro é murado com roda com três portais, e se fosse terra levaria mais de dois alqueires de semeadura.
Tem esta Igreja dois altares, Altar-Mor na sua tribuna tem a imagem milagrosa da N. Srª dos Anjos, com muita perfeição e de que os paroquianos têm especial devoção assim como os povos vizinhos, na Banquete do Altar tem S. João Baptista e a Irmandade do Santíssimo, é Juiz perpétuo o Marquês Donatário: Confraria N. Srª dos Anjos de que é Juiz Perpetuo o Prior.

O Altar da parte do evangelho é do menino Jesus, com sua confraria, tem S. Sebastião, N. Srª do Rosário, São José Evangelista, São Gregório: N. Srª do Rosário tem a sua festa no último dia de Outubro. Tem a festa da Srª dos Anjos Padroeira, com o Santíssimo exposto com sessenta dias de indulgência a 15 de Agosto. A festa do Santíssimo Sacramento é no 3º Domingo do mesmo Mês, com todo o esplendor e grandeza. O Pároco é Prior emprestado pela casa de Angeja, tem a renda dos Passais da Igreja que dá mais ou menos 500 mil reis, nela tem o Foral desde 1650 os filhos segundos da casa de Angeja, dotados de muitas virtudes, caridades e letras. Desde sempre representaram esta Igreja, esta família.
 
Tem um Convento de Religiosas e Frades, distante da Matriz um quarto de légua: Orago N. Srª da Visitação e de que é Padroeiro o Marquês de Angeja e foi quinta dos seus antepassados, onde ainda hoje há uma grande mata de árvores silvestres, excelente água com muita abundância, um lago bastante grande. É este Convento morada de muitos religiosos, e do Provincial do Capitulo geral de Toledo, têm 32 Religiosos moradores.
Em nossos tempos tem morrido alguns religiosos exemplaríssimos muito conhecidos pelos grandes milagres realizados, Frei Manuel Marcieno 2/9/5/1746; Frei Manuel das Neves 20/5/1749; Frei Sebastião de S. Leonardo 11/1/1697, Frei Sebastião de Jesus, pregador jubilado em 20/3/1776.
É muito conhecido o Padre Frei João da N. Srª; Regedor do Donatário na Portela desta Freguesia e foi colegial Perpétuo em Coimbra onde foi Doutorado Cónego na Sé da mesma cidade e faleceu sendo Vigário Capitulo no Governo do Bispado de Coimbra, merecedor dos maiores empenhos, pelas suas Letras e Virtudes, e tem as armas que muitos grandes homens nos tempos antigos e nestes novos, como Gregório Ferreira de Faria, Sargento-Mor da Comarca de Leiria.
 
Tem esta terra duas Feiras Francas no ano, uma no dia de S. Brás, outra a 28 de Outubro, dia de S. Simão e S. Judas. Não tem esta vila correio porém serve-se pelo de Alenquer, donde dista duas léguas. Dista 10 léguas de Lisboa. Não há lagoa celeste mas tem muitas Fontes e uma muito especial chamada da Formiga junto a esta vila. Não é praça de armas.
Não morreu alguém no terramoto de 1755 muito conhecido a não ser o "Poeta de Xabregas".
Tem Hospital, e quem o administra é a casa da Misericórdia que recebe de renda um moio de trigo.
Tem casa da Misericórdia e Igreja, com sua Irmandade de que é perpétuo Provedor o Marquês Donatário, e que tem um governo semelhante ao da Misericórdia de Lisboa, e que foi dado no tempo de El-Rei D. Manuel.

Tem esta Igreja um só altar onde é venerada a imagem do Senhor dos Passos, com muita perfeição pela sua antiguidade dizem em tudo semelhante ao Senhor dos Passos da Graça em Lisboa. É esta Igreja toda azulejada com duas portas, couro e casa da Irmandade, tem a sua procissão na Quarta Sexta-feira da Quaresma, e na mesma Igreja fazem os terreiros a procissão em Domingo de Ramos. Junto á vila há a Ermida do Anjo da Guarda, da parte sul toda abóbada com um só altar, tem confraria, juiz, juíza e mordomo, e fazem a festa com toda a solenidade no terceiro Domingo de Julho mas os seus donatários veneram todos os tempos do ano.
 
Tem na parte poente a Ermida de S. Brás, com um só altar, administrada pela casa da Misericórdia, frequentada em romagem principalmente no dia 3 de Fevereiro. Os frutos da terra são em abundância, como o trigo, cevada, vinho, algum milho e azeite, e toda a casta de fruta em abundância, muito gado miúdo, ovelhas e cabras e caça, perdizes e coelhos. Tem dois juízes ordinários, um na vila e outro no seu termo fazem audiências ás semanas, um procurador e três vereadores, confirmado tudo pelo Marquês de Angeja, senhor desta vila, a Câmara está sujeita ao seu governo e das justiças de Torres Vedras, cabeça de Comarca, tem um capitão ordenança sujeito ao General da Estremadura, e como espiritual está  sujeita esta vila ao vigário da casa de Alenquer donde dista duas léguas. Não pagam jogada os moradores desta vila e seu termo mas sim um tributo real com suas rendas. Foram estas letras escritas pelo Senhor Manuel Nobre Pereira mandado pelo Vigário da casa do Marquês de Vila Verde dos Francos em 15/08/1759
Prior João
 
Costumam os moradores desta vila e seu termo irem a uma Sírio da Nossa Senhora da Misericórdia, a sete de Setembro á Igreja no termo do Concelho de Óbidos
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

3 comentários:

  1. Eu li tudo, estás promovido a Historiador da Terra, só tenho uma dúvida que raio de medida é a de um "moio de Trigo"? Eu e o João Pedro ficamos intrigados com tal oferta.

    Beijinhos e as melhoras desse braço.
    Margarida e João Pedro

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  2. Uma aldeia que já foi uma vila de tão grande importância. Gostei que publicasses um pouco da história de Vila Verde dos Francos.
    A do burro toca o sino de Maiorga, assemelha-se ao que eu penso e digo quando me falam da história do burro que toca o sino. “ Os habitantes de Vila Verde são dotados de uma enorme inteligência, inclusivé os animaizinhos, até os burros sabem tocar o sino”.
    Beijinhos mano.

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  3. Só hoje vi estes comentários, e o primeiro pede uma resposta, então aqui vai, um moio de trigo é o equivalente a 840 litros ou 60 alqueires, de trigo ou sal por exemplo.

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