Maria de Lourdes dos Anjos
Há quanto tempo não vejo o meu
amigo, o senhor Rosalino. Tenho saudades das suas gargalhadas francas, do seu
sorriso contando a sua meninice atribulada, das suas estórias familiares
repartidas entre cinco mulheres de luta e garra (sogra, cunhada, duas filhas
maravilhosas e, é claro, a sua Emília).
Lembro as festas para as quais
me convidava e onde me sentia tão bem, tão verdadeiramente em “família”. Sei
que, com alegria, me confiou as suas meninas, a Manuela e a Ana, sabendo que
estavam em boas mãos e tenho a certeza que ainda hoje, se fala de mim com muito
carinho, na casa do senhor Rosalino.
Eu recordo este amigo, com ar
jovem e feliz, ao balcão da sua drogaria em S. Pedro da Cova, falando de tudo
com toda a gente. Sabia toda a psicologia da vida, todas as malandrices dos
menos honestos e era dono do sonho de menor desigualdade nesta terra hoje ainda
nossa…mas já pouco nossa!
Claro que falo do meu amigo de
esquerda, com direito à liberdade, e com um coração enorme bem no centro do seu
percurso de vida. Homem bom e de bem.
O outro Rosalino, quase careca,
mal-encarado, mentiroso, e desonesto quanto baste, não conheço, não sei de onde
veio nem para onde vai mas eu, eu sei que não vou na cantiga dele.
Faz
parte de uma pandilha que se esqueceu que os servidores do estado eram isso
mesmo, servidores. Tinham vencimentos de miséria eram obrigados a assinar a
declaração vinte e sete mil e três, estavam proibidos de fazer perguntas ou
reclamar. Tinham uma coisa rara para o tempo, que era um diploma de
habilitações escolares e, se eram uns sortudos a quem a vida dera um curso,
ganhavam quatro vezes menos no público do que no privado.
Qualquer cidadão que fosse
porteiro num banco ou numa companhia de seguros ganhava muito mais que um professor.
As coisas mudaram um pouco
durante a primavera marcelista, por volta de 1972, mas só depois de abril, com
os escalões aplicados nas remunerações dos professores, polícias e outros
funcionários os ordenados subiram de forma que “se visse”.
Quando a idade da reforma
chegava, ela dava um salto porque se deixavam de fazer descontos para a ADSE e
para a CGA…Mas, atenção, todos ficavam sem aumentos durante seis anos até que
as pessoas no ativo tivessem salários iguais às reformas atribuídas.
Agora aparece nas varandas
engalanadas da TV, um tal Rosalino, quase careca, mal-encarado, mentiroso e
desonesto quanto baste, tentando transformar em salteadores os servidores desse
Estado que já não é nosso, tentando guerras intestinas entre velhos e novos,
desempregados e trabalhadores, públicos e privados, enfim, entre gente da mesma
terra mas com tempos tão distantes e realidades tão diferentes.
Sabia estas coisas, senhor
Rosalino!?Sabe o que é trabalhar senhor Rosalino!? Olhe meu rico senhor,
comecei a trabalhar em 1968 e o meu vencimento eram mi oitocentos e três
escudos, depois, para terem professores nas escolas passaram o vencimento para
dois mil setecentos e três escudos ( ainda bem que nunca , nas finanças, me
tiraram os três… escudos do salário).
Agora estes Alibabás, de
repente, tiram-me tudo o que eu queria que fosse para ajudar os meus netos,
para pagar as fraldas da minha mãe e as minhas, claro.
Ó senhor Rosalino, dê um
saltinho até S. Pedro da Cova, pare na drogaria do senhor Lino, na mó, ouça o que
esse outro Rosalino sabe da vida, veja a realidade do povo que é gente, conheça
pessoas honestas e depois vá dormir um sono.
Olhe, cresça e apareça!
Sabe, até me apetecia
chamar-lhe um nome feio mas não quero ofender a senhora sua mãe! Passe bem…
"O titulo e as fotos são da minha responsabilidade".
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