Grande Júlio Isidro, falar claro nos dias de hoje, já tem custos «quase» como, no tempo da outra senhora, mas há sempre alguém que não tem medo, e não se acomoda á moda vigente, como é o caso.
Em Portugal não se fala, sussurra-se, o medo de outros tempos veio para ficar, um Povo que cala consente, raramente assume de cara levantada e peito feito aquilo que lhe vai na alma, é pisado e repisado, e pensa sempre que são os outros que têm de tirar o pé de cima do seu, nunca ser ele a retira-lo, não assume as suas dores não vá o vizinho ou amigo não gostar do «gemido». Parabéns Júlio Isidro, pela clareza e frontalidade do seu texto!
Em Portugal não se fala, sussurra-se, o medo de outros tempos veio para ficar, um Povo que cala consente, raramente assume de cara levantada e peito feito aquilo que lhe vai na alma, é pisado e repisado, e pensa sempre que são os outros que têm de tirar o pé de cima do seu, nunca ser ele a retira-lo, não assume as suas dores não vá o vizinho ou amigo não gostar do «gemido». Parabéns Júlio Isidro, pela clareza e frontalidade do seu texto!
Júlio Isidro
NÃO,
NÃO ESTOU VELHO!!!
NÃO SOU É SUFICIENTEMENTE NOVO PARA JÁ SABER TUDO!
Passaram 40 anos de um sonho chamado Abril.
E lembro-me do texto de Jorge de Sena…. Não quero
morrer sem ver a cor da liberdade.
Passaram quatro décadas e de súbito os portugueses
ficam a saber, em espanto, que são responsáveis de uma crise e que a têm que
pagar…. civilizadamente, ordenadamente, no
respeito das regras da democracia, com manifestações
próprias das democracias e greves a que têm direito, mas demonstrando sempre o
seu elevado espírito cívico, no sofrer e ….calar.
Sou dos que acreditam na invenção
desta crise.
Um “diretório” algures decidiu que as classes
médias estavam a viver acima da média. E de repente verificou-se que todos os
países estão a dever dinheiro uns aos outros…. a dívida soberana entrou no
nosso vocabulário e invadiu o dia a dia.
Serviu para despedir, cortar salários,
regalias/direitos do chamado Estado Social e o valor do trabalho foi diminuído,
embora um nosso ministro tenha dito decerto por lapso, que “o trabalho
liberta”, frase escrita no portão de entrada de Auschwitz.
Parece que alguém anda à procura de uma solução que
se espera não seja final.
Os homens nascem com direito à felicidade e não
apenas à estrita e restrita sobrevivência.
Foi perante o espanto dos portugueses que os velhos
ficaram com muito menos do seu contrato com o Estado que se comprometia
devolver o investimento de uma vida de trabalho. Mas, daqui a 20 anos isto
resolve-se.
Agora, os velhos atónitos, repartem o dinheiro
entre os medicamentos e a comida.
E ainda tem que dar para ajudar os filhos e netos
num exercício de gestão impossível.
A Igreja e tantas instituições de solidariedade fazem
diariamente o milagre da multiplicação dos pães.
Morrem mais velhos em solidão, dão por eles pelo
cheiro, os passes sociais impedem-nos de sair de casa, suicidam-se
mais pessoas, mata-se mais dentro de casa, maridos, mulheres e filhos
mancham-se de sangue , 5% dos sem abrigo têm cursos superiores, consta
que há cursos superiores de geração espontânea, mas 81.000
licenciados estão desempregados.
Milhares de alunos saem das universidades porque
não têm como pagar as propinas, enquanto que muitos desistem de estudar para
procurar trabalho.
Há 200.000 novos emigrantes, e o filme “Gaiola
Dourada” faz um milhão de espectadores.
Há terras do interior, sem centro de saúde, sem
correios e sem finanças, e os festivais de verão estão cheios com bilhetes de
centenas de euros.
Há carros topo de gama para sortear e autoestradas
desertas. Na televisão a gente vê gente a fazer sexo explícito e explicitamente
a revelar histórias de vida que exaltam a boçalidade.
Há 50.000 trabalhadores rurais que abandonaram os
campos, mas há as grandes vitórias da venda de dívida pública a taxas muito
mais altas do que outros países intervencionados.
Há romances de ajustes de contas entre políticos e
ex-políticos, mas tudo vai acabar em bem...estar para ambas as partes.
Aumentam as mortes por problemas respiratórios
consequência de carências alimentares e higiénicas, há enfermeiros a partir
entre lágrimas para Inglaterra e Alemanha para ganharem muito mais do que 3
euros à hora, há o romance do senhor Hollande e o enredo do senhor Obama que
tudo tem feito para que o SNS americano seja mesmo para todos os americanos.
Também ele tem um sonho…
Há a privatização de empresas portuguesas altamente
lucrativas e outras que virão a ser lucrativas. Se são e podem vir a ser,
porque é que se vendem?
E há a saída à irlandesa quando eu preferia uma…à
francesa.
Há muita gente a opinar, alguns escondidos com o
rabo de fora.
E aprendemos neologismos como “in conseguimento” e
“irrevogável” que quer dizer exatamente o contrário do que está escrito no dicionário.
Mas há os penalties escalpelizados na TV em câmara
lenta, muito lenta e muito discutidos, e muita conversa, muita conversa e nós,
distraídos.
E agora, já quase todos sabemos que existiu um
pintor chamado Miró, nem que seja por via bancária. Surrealista…
Mas há os meninos que têm que ir à escola nas
férias para ter pequeno- almoço e almoço.
E as mães que vão ao banco…. alimentar contra a
fome , envergonhadamente , matar a fome dos seus meninos.
É por estes meninos com a esperança de dias
melhores prometidos para daqui a 20 anos, pelos velhos sem mais 20 anos de
esperança de vida e pelos quarentões com a desconfiança de que não mudarão de
vida, que eu não quero morrer sem ver a cor de uma nova liberdade.
Júlio Isidro
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